Domingo, 19 de Fevereiro de 2012

Afinal o "Hugo" não é um filme para crianças

 

 

"Hugo", como toda a gente já sabe, é o primeiro filme de família de Martin Scorsese. Mas dizer que é um filme de família não é o mesmo que dizer que é um filme que serve para "despejar" os filhos.

Se outrora qualquer criança perdia o pio com o que via no ecrã (coisa que o próprio filme de Scorsese mostra), hoje, para quem foi educado à frente da televisão, o Filme já não reserva o mesmo mistério.

Fui obrigado a assistir a "Hugo", um momento de Cinema verdadeiramente mágico, com um bando de crianças intoleravelmente irritantes na faixa dos 7/8 anos na fila de trás, que ao que tudo indicava, lá está, tinham sido despejadas na sala para darem sossego aos pais. E por mais que os adultos que as rodeavam as mandassem calar, de nada servia.

"Hugo" é um filme que pode ser visto e até adorado por crianças, mas têm de ser crianças que recebam o mínimo de educação em casa e que vejam o mínimo de encanto no Cinema, e o que o Cinema é na imaginação de uma criança está sem dúvida a mudar.

 

O filme tem crianças como protagonistas, mas tem um ritmo de adultos e uma história que não apela a qualquer criança, mas sim a um tipo muito específico de crianças, crianças que não vêem o Passado como um sítio entediante e que não reagem com repulsa aos "filmes velhos". Porque esta é uma história de nostalgia, sobre o início do Cinema, integrada na viagem de um rapaz orfão que quer descobrir o seu lugar no mundo e que pelo caminho tem de ajudar um homem a redescobrir o seu. É mais uma viagem emocional do que uma montanha-russa cheia de luzes fluorescentes e explosões.

 

A todas as famílias que estejam por aí: estejam conscientes de que não é a típica história familiar que passa na televisão aos domingos à tarde. Não deixem crianças que não têm respeito pelos mais velhos na sala de Cinema, como se esta fosse uma jaula que as pode conter durante umas horas de modo a poderem ver as montras. Enquanto têm o vosso sossego, lá se vai o sossego de quem pagou, e bem, para apreciar um filme.

Mostrem esta pérola a crianças, mas a crianças que ainda sabem apreciar o encanto dos filmes que encantam, e que respeitam o encanto dos outros.

 

Em total oposição ao que me aconteceu ao ver este "Hugo", quando fui ver o "The Artist", tive uma bela surpresa. O público consistia maioritariamente em adultos, o que não surpreende, e a visualização decorreu em silêncio absoluto (tirando os risos nas cenas do cão, claro), um silêncio de admiração e respeito pelo filme. E eu estava tão surpreendido por aquele silêncio, tão surpreendido por não ter ouvido ninguém gritar "O quê? Isto é mudo?!" ao fim de dez minutos, que só quando chegou o intervalo é que reparei que estava um casal com dois filhos, uma rapariga que devia ter à volta de treze anos e um rapaz de uns oito, duas ou três filas à frente de mim. A criança estava a assistir àquele filme mudo a preto e branco num estado de admiração tal, que eu nem tinha dado pela sua presença!

À saída da sala, quando a mãe perguntou ao filho  se ele tinha gostado, ele respondeu-lhe que tinha adorado. Basta dizer que saí do Cinema tão deliciado com aquela reacção como com o próprio filme.

 

É destas excepções que dependem as gerações.

 

 

 

publicado por RJ às 19:42
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