Spider-Man: Ahem, you know, if you're going to steal cars, don't dress like a car thief.
Car Thief: You a cop?
Spider-Man: You seriously think I'm a cop in a skintight red and blue suit?
Este artigo contém spoilers.
Devo confessar desde já que sou fã do Homem-Aranha. Fã da personagem, não um especialista nos comics. Desde os tempos de criança em que me levantava cedo para ver os desenhos-animados do Homem-Aranha na SIC, que fiquei fascinado por este herói.
Estive sempre céptico em relação a este reboot. Contudo, Andrew Garfield até me pareceu uma boa escolha quando foi anunciado para o papel. É por isso uma pena que o filme faça uma interpretação ridícula do Peter Parker e das suas motivações.
Ao longo do filme, nunca consegui identificar naquele Peter Parker, o Peter Parker. Não tenho nada contra adaptar a personagem à actualidade, mas aquele ar de skater e adolescente frustrado (emo, hipster, ou seja lá o que for), não é o Peter Parker. A personalidade frustrada enraizada na perda dos pais, acaba por conduzir a uma representação errada daquilo que é a personagem. Não só lhe dá ainda mais negatividade à partida, como ainda coloca o trabalho de cientista do pai como estando na origem dos poderes de Peter, e parte da mística da origem deste super-herói é o facto de o incidente que lhe dá poderes ser obra do acaso.
Parece que com o êxito do "The Dark Knight" queriam fazer do Peter uma espécie de Bruce Wayne adolescente, e acabam por deixar que isso contamine tudo. A parte supostamente mais cómica do Aranha é outro desperdício, e acaba por parecer um pouco fora do contexto dada a frustração constante que o Peter transmite.
Depois, vem o aspecto crucial na base moral da personagem, a relação com os tios. Se esta já é pobre ao início, e a coisa só piora com a morte do tio. A morte do tio Ben é o momento fundador do Homem-Aranha, e é ridicularizada pelo filme. O tio Ben é morto porque Peter faz uma birra por não ter dinheiro suficiente para comprar um leite com chocolate. A sério?!
E ainda piora. Depois da morte do tio, Peter decide de facto começar a combater o crime como Homem-Aranha. Mas em vez de assumir a sua responsabilidade, decide perseguir apenas os criminosos que correspondem à descrição do assassíno do tio, para obter vingança. Quererá isto dizer que se visse alguém a roubar as compras a uma velhinha não a ajudaria a menos que o ladrão correspondesse à descrição?
A relação com a tia May é igualmente ridícula. Só apetece dar umas boas chapadas a este Peter pelo desprezo que lhe dá.
Este Homem-Aranha não podia ter menos de fantástico. Não é mais do que um miúdo frustrado com défice de maturidade.
Pelo meio há uma relação amorosa com a icónica Gwen Stacy, que não consegue mais do que causar embaraço ao espectador. Li algures que o filme tinha diálogos brilhantes e uma relação muito real entre eles os dois. Não me pareceu nada por aí além e não chamaria à tolice daquele diálogo do cacau algo brilhante. Secalhar tenho é de dar um desconto, porque esta Gwen deve ser muito mais inteligente do que eu, pois com apenas 17 anos já é a estagiária de topo no maior laboratório do mundo...
Gwen nunca é mais do que uma miúda com uma paixoneta, e uma paixoneta que tem pouco de real. Até nos momentos mais dramáticos, como depois de Peter estar envolvido no incidente que acaba por provocar a morte do pai de Gwen, ela nunca considera afastar-se de Peter. Aranha, estás à vontade, podes envolvê-la e à família dela em todos os esquemas maléficos de todos os vilões, que ela nunca se irá sentir incomodada!
O Homem-Aranha tinha inevitavelmente de voltar ao grande ecrã, e isto é o mais triste exemplo de uma oportunidade perdida. Já tinhamos a base da personagem tão bem estabelecida, por isso, e se em vez de fazer voltar tudo para trás, tivessem feito a personagem evoluir? Agarrando por exemplo numa fase dos comics de que gosto bastante, o Peter Parker professor de liceu dos anos de J. Michael Straczynski e John Romita Jr.? Ora aí está algo que pode revitalizar realmente o Homem-Aranha no grande ecrã.
Fica para o próximo reboot.
6/10
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