Quinta-feira, 10 de Junho de 2010

"Casablanca"

 

Rick: Louis, I think this is the beginning of a beautiful friendship.

 

Hoje, passamos pela vida com demasiada rapidez. Padecemos de uma fome que nós próprios criámos.

No Cinema, vêmos bem como a velocidade com que se consomem as coisas aumentou. E isso foi criado pela própria indústria, que vive na Era da reciclagem.

Mas por muito que ser-se ecológico seja louvável, a reciclagem de ideias, por nem chegar a ser uma reciclagem decente no sentido de nos dar um produto novo que saia da máquina a brilhar, mostra na maioria dos casos falta de criatividade. A reciclagem é barata, e o filme sai ferrugento.

Cria-se na sociedade um desejo de ver tudo feito novamente, pela simples razão de que os filmes antigos são antigos. Claro que o conceito de antigo para a maioria das pessoas é de um filme com mais de dez anos. E nem se fala nos filmes que já atingiram a idade adulta, esses são autênticos achados arqueológicos.

O Passado existiu sim, mas é uma mera curiosidade. Um lugar onde as pessoas se vestiam, comportavam e falavam de forma pouco desenvolvida, filmadas por equipamento que faz com que os filhos da geração do HD e do 3D se sintam envergonhados de dizer que nessa época, aquilo também era chamado "Cinema". Logo, porque tem um indivíduo destes tempos modernos de ver filmes dos tempos primitivos?

A resposta é simples: porque o Passado do Cinema é um sítio encantador.

 

Alguém que diga ser um amante da sétima arte não pode não ver "Casablanca". E certamente que não pode não gostar de "Casablanca", pois se é verdade que gostos não se discutem, não menos verdade é o facto de "Casablanca" ser um dos melhores filmes de sempre.

É um dos melhores filmes de sempre por muitas razões, e não duvido que se poderiam alimentar infinitos debates à volta do tema. Teve uma enorme importância na História desta arte, tem interpretações fantásticas onde se destaca o cínico Rick que Humphrey Bogart compõe extraordinariamente bem, tem diálogos  sinceros por vezes com um humor delicioso e muitas frases memoráveis, e tem aquela belíssima atmosfera do bar. Mas dizer isto é dizer pouco. "Casablanca" é uma pura pérola porque é eterno. E é eterno, porque o amor também o é, (estará a aproximar-se um cliché?).

Quanto ao amor entre duas pessoas, não sei se será eterno. Acho que pode ser, mas semelhante ocorrência é incrivelmente rara e talvez esteja em vias de deixar de ocorrer de todo. Porém o Amor, a emoção, é de facto eterna. O que seria do Homem sem ela, nem é bom imaginar. É eterno porque, como a canção de Herman Hupfeld nos diz: "The fundamental things apply / As time goes by".

Não importa o que muda, importa que o Amor não muda. Continuará claro a quebrar corações, por não ser correspondido, por ter obstáculos no seu caminho ou por se tomar como garantido... Mas continuará também a ser fundamental, e um amor verdadeiro pode sentir-se hoje como também alguém o sentiu há décadas ou séculos atrás. Liga todos os que já o sentiram e dá um poder relativo às armas do Tempo, que não o conseguem mudar. Isto porque apesar de muita coisa associada ao Amor puder mudar, no âmago ele não muda.

"Casablanca" é perfeito porque representa isto da forma incrivelmente verdadeira. É romântico, mas com um Amor vindo da alma, que se apresenta como é, e nos toca pela sua verdade. Um Amor que teve uma canção própria, que depois sofreu, que se tentou esquecer mas que volta, desferindo mais um golpe em corações nos quais o golpe passado se tinha já tornado em cicatriz. Assim, sem se conseguir combater, vai exigir novo compromisso dos apaixonados, e possivelmente, um compromisso ao sacrifício.

 

O Cinema é também um Amor que pode ser eterno. Não tem barreiras pois aquilo que representa quando produz Arte é intemporal. "Casablanca" é um símbolo desta eternidade, a eternidade dos filmes com uma magia única, irrepetível.

Perder o Passado do Cinema é perder o Cinema. Talvez não por completo, mas perder grande parte dele e fazê-lo metamorforsear-se numa nova coisa, muito menos agradável, e muito menos mágica.

 

Rick e Ilsa terão sempre Paris, o recanto no seu Passado que conserva para sempre a memória do seu amor. Nós teremos sempre "Casablanca", o filme de um Passado encantador, que conserva para sempre, a memória de uma magia cinematográfica que o nosso tempo não consegue reproduzir. E "Casablanca" estará sempre à nossa espera, um bom amigo que nos inspira tanto em tempos de felicidade como em tempos de tristeza, bastando só que não nos esqueçamos dele. 

 

10/10

 

 

 

publicado por RJ às 15:30
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