Jerry Bruckeimer é um homem com olho para o negócio. Estamos afinal a falar de um dos maiores produtores do nosso tempo, que tem lucrado milhões com sucessos desde a televisão até ao Cinema, e cuja jóia da colecção é o colossal "Pirates of the Caribbean".
Ora, a série de videojogos "Prince of Persia" parece perfeita para Bruckeimer adaptar: passa-se num local exótico por excelência, envolve artefactos com poderes místicos que podem libertar o apocalipse na Terra, e tem um herói que faz acrobacias impossíveis e espectaculares.
E sem dúvida que Bruckeimer sabe como cumprir a promessa de blockbusters exóticos, de encher o olho visualmente e com um aroma de épico. "Prince of Persia: The Sands of Time" não tem a magia das piratarias de Jack Sparrow, mas diverte como poucos filmes que passam na televisão todos os fins-de-semana conseguem fazer.
O Princípe Dastan vê-se na posse de uma misteriosa Adaga com o poder de manipular o Tempo, e depois de ser acusado injustamente de ter morto o rei da Pérsia, seu pai, persegue que tal assassinato é apenas o primeiro golpe de uma conspiração que pode colocar em risco toda a humanidade. A Adaga pode ser usada para libertar as Areias do Tempo, e se tal acontecer, é lançado o caos na Terra. Com a ajuda da Princesa Tamina, Dastan inicia uma corrida contra o tempo, para proteger a Adaga a todo o custo.
Adaptar um videojogo não é brincadeira. É muito fácil que o filme se torne um entretenimento vulgaríssimo que as pessoas terão esquecido daí a dois dias, ou que nem sequer acabam de ver por falta de paciência. E o maior problema é que tais adaptações têm péssima fama.
Mas claro que essa fama tem razão de ser. Mesmo o melhor dos videojogos pode tornar-se um fracasso no Cinema. A mecânica dos videojogos é diferente da mecânica dos filmes. Um filme precisa de uma estrutura miniamente sólida em termos de argumento e de personagens minimamente convincentes. No Cinema as pessoas não estão demasiado entretidas com os comandos da Playstation na mão a tentar descobrir como tirar aquela réstia de vida ao boss com pior aspecto, para perceberem que aquela história e aquelas personagens são reciclagens baratas.
O que faz Bruckeimer saber fazer bons negócios é que ele sabe quais são os ingredientes que fazem de um filme de acção um sucesso: bom protagonista, realizador minimamente competente, uma companheira feminina bonita e espirituosa, e muita adrenalina. Tudo isto combinado para fazer com que o espectador se interesse pelo que se está a passar no ecrã.
Mike Newell, que conta no currículo com o fantástico "Donnie Brasco" e com um dos melhores capítulos da saga de Harry Potter, "Harry Potter and the Goblet of Fire", é um bom realizador. Claro que neste mundo das corridas de obstáculos há pouco a fazer de extraordináriamente diferente, (a menos que se queira entrar em conflitos com os produtores), mas mesmo assim foi melhor ter Newell na realização do que um Brett Rattner ou um Michael Bay.
O filme é no entanto, um pouco apressado. O desenvolvimento é só q.b., o indispensável para que se perceba minimamente o motivo de tanta correria. Contudo dá-se um contexto às personagens eficiente o suficiente para que nos continuemos a interessar por elas, e tanto Jake Gyllenhaal como Gemma Arterton e Ben Kingsley estão bem, dentro daquilo que se espera neste género.
O filme beneficiava imenso de mais vinte minutos, e são esses vinte minutos que lhe faltam para o elevar a um patamar superior. Porém, como o espectador vai sendo brindado com colheradas de humor, (principalmente pela personagem do empresário das corridas de avestruzes, interpretado por Alfred Molina, cujo ódio por impostos vai arrancando sorrisos), e como todas aquelas duas horas transpiram estilo, cuidado técnico, (mesmo que nalgumas cenas o CGI pudesse estar melhor), e magia de blockbuster puro sem pretensões a ser obra-prima, no final, não temos dúvida de que a experiência foi boa.
As expectativas não eram muitas, mas o filme acabou por se provar uma agradável surpresa, dentro daquilo que prometia oferecer.
Convenhamos, a velha história da destruição do mundo já não convence ninguém. Já a ouvimos demasiadas vezes, e se no início até pode ter parecido ameaçadora, agora começa a dar-nos vontade de ver mesmo o mundo acabar, só para deixarmos de ter a sensação de que nos andam a aldrabar. Claro que até se compreende: se o vilão da voz monocórdica e da barbicha maléfica dissesse, "Eu tenho uma arma mesmo, mesmo muito ameaçadora... que pode matar aquele tipo com ar ligeiramente nojento que vai a atravessar a rua e que tu nunca viste na vida", é provável que o herói decidisse arrumar a espada e voltar para a esplanada para acabar o pires de tremoços. Ainda assim, a overdose de ameaças à existência do universo faz com que essa seja um tipo de premissa que, à partida, dificulta que o espectador esteja interessado por aquilo que se passa no ecrã. Se o espectador se interessa, se não começa a pensar a meio de uma luta mortal, quando a amada do herói está prestes a cair num lago de lava, "O que é que eu vou jantar hoje?", então o filme deu-nos o suficiente para valer o dinheiro do bilhete e a tarde que gastámos com ele.
Este filme não é de modo algum uma pérola da História da 7ªarte, mas conseguiu manter-me interessado, e deu-me duas horas de puro entretenimento passadas sem o mais leve aborrecimento. Às vezes, não é preciso mais.
7/10
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Tamina: Dastan, where's the Dagger?
Prince Dastan: You're welcome to search me for it. You'll have to be very thorough.
Tamina: Such a noble prince leaping to assist the fallen beauty.
Prince Dastan: Who said you are a beauty?
Tamina: There must be a reason why you can't take your eyes of me.
Prince Dastan: [stutters] You're... I...
Tamina: That's impossible.
Prince Dastan: Difficult, not impossible.
Prince Dastan: You really enjoy telling me what to do, don't you?
Tamina: Only because you are so good at following orders.
Prince Dastan: Don't press your luck.
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