Sábado, 18 de Julho de 2009

"Harry Potter and the Half-Blood Prince"

  

É o começo do fim para Harry Potter, que em "Half-Blood Prince" viaja até ao passado de Voldemort guiado pelo Professor Dumbledore e inicia a odisseia final contra as trevas.

Ao mesmo tempo, descobre um misterioso livro de Poções, as hormonas atacam e forças sinistras ameaçam quebrar a segurança do castelo.

 

Antes de mais, quero que algo fique claro: gosto da saga de J. K. Rowling. Sou um fã, não um fã que considera a saga de Harry Potter os melhores livros/filmes de sempre, mas ainda assim, um fã. Gosto e reconheço qualidade neste universo e mais, creio não existir nenhuma vergonha nisso, nem deve existir preconceito quanto a descobri-lo.

 

Longe de serem maus filmes, os dois primeiros ainda que excelentes filmes de família, têm um registo mais infantil, e o crescimento começou com "Prisoner of Azkaban" de Alfonso Cuáron. Em "Goblet of Fire", Mike Newell continuou a lição de crescimento do mexicano e captou Harry Potter de forma realmente adulta e negra. Depois dele, estrearam-se David Yates e um novo argumentista, Michael Goldenberg, que construíram uma quinta aventura interessante, mas irregular, com ritmo demasiado acelerado e alguma falta de fluidez.

Os erros de "Order of the Phoenix" fazem com que fique claro que, o regresso de Steve Kloves, argumentista de todos, menos desse 5ºfilme, não poderia ser mais saudável, dominando este uma melhor capacidade de transposição dos livros para filmes, fazendo a história fluir saudavelmente, sem que as cenas pareçam pecar em coesão e que falte desenvolvimento.

 

Apesar de pensar em algumas coisas que poderiam ter sido acrescentadas, como aproveitar melhor a personagem de Fenrir Greyback (cujo nome nem é mencionado), entre mais um ou dois pormenores, compreendo as razões por detrás das omissões. À excepção do caso do vilão Greyback, as outras coisas omitidas não prejudicam o filme, (o passado de Voldemort possui mais memórias que explicam melhor o seu percurso, mas a sua omissão compreende-se para evitar tornar o vilão o protagonista),  e cenas acrescentadas acabam por resultar bem. Um momento que foi bem alterado é o do desfecho final na Torre, que resulta melhor no filme do que como estava no livro.

As habituais críticas de fãs menos liberais que gostariam de ver no filme uma transposição "tal e qual" do livro não têm grande razão de ser. Os filmes devem ser adaptações com a sua própria identidade, construindo com o rico material de base de que dispõem, algo marcante e não apenas uma simples transposição para a tela, uma visão própria com a sua originalidade, algo que Cuáron iniciou. 

Nisto, acho que Kloves tem sucesso, com a sua habitual coesão narrativa que consegue captar a essência da história.

 

Para além do argumentista, merece destaque a banda sonora a cargo de Nicholas Hooper, (apesar de um regresso de John Williams parecer o melhor para o próximo capítulo, divido em dois filmes), e a fotografia de Bruno Delbonnel.

Nos actores "já não tão jovens",  Daniel Radcliffe amadureceu bem como actor, (bastam as cenas das consequência do duelo com Draco, a performance cómica e natural sobre o efeito da poção da sorte e os dramáticos momentos na gruta, para o provar), e continuo a defender que foi a escolha acertada para o papel, assim como Rupert Grint, responsável como sempre por momentos mais ligeiros, mas bons, e Emma Watson, uma forte presença que vai crescendo na posição de conselheira e "irmã" de Harry, sendo o aproximar de ambos como irmãos, não só convincente como natural. Tom Felton consegue evoluir na sua personagem e captar bem todo o conflito com a aura negra que paira sobre Draco.

Ambas as interpretações de Voldemort no passado, com onze e dezasseis anos são, ainda que breves, incrivelmente arrepiantes, capturando toda a maldade precoce da personagem, mesmo no olhar de uma criança.

 

Falando em jovens, as paixões adolescentes são tema de destaque, e não foram forçadas, desenrolaram-se como no livro e como são na adolescência. Aparecem aqueles toques de patetice, que são naturais, mas também toques de sinceridade, e dão aos personagens um crescimento com os conflitos emocionais com que se deparam.

 

Nos veteranos britânicos, os desempenhos não poderiam ser mais enriquecedores. Jim Broadbent encarna na perfeição o caricato Horace Slughorn e Maggie Smith está como sempre a dar toques de classe. Porém a "alma adulta" é mesmo composta por Alan Rickman e Michael Gambon. Gambon capta a essência de Dumbledore enquanto um guia terno, ligando-se cada vez mais a Harry, e Rickman está cada vez melhor no papel de Snape, que é sem dúvida uma das personagens mais interessantes de toda a história.

 

Visualmente, é como seria de esperar: espantoso. O jogo de Quidditch está mais emocionanate, "sujo" e real do que  foi nos primeiros filmes, a destruição da ponte é muito bem conseguida,  e a sequência da gruta tem um esplendor sinistro que rapidamente se converte numa magnífica visão de pesadelo.

 

Apesar de tudo isto, o verdadeiro aspecto a destacar no filme, aquilo que o faz ser um Harry Potter adulto e negro onde aquele brilho inocente desapareceu dos corredores do castelo, é o que era também o coração do livro: o simbolizar do começo do fim da adolescência dos heróis.

Fora de Hogwarts, os mundos mágico e não-mágico encontram-se cobertos por trevas, e a escola é o último lugar seguro, um lugar onde os jovens heróis se apaixonam, numa busca pela felicidade que contrasta com a falta dela fora desses muros. Mas nas profundezas do castelo, pelas mãos de um jovem que se afasta dessas réstias de felicidade, desenrola-se uma tarefa que destruirá a escola enquanto lugar seguro e que trará uma perda que obrigará os jovens a crescer.

 

No final, os adolescentes são confrontados com o facto de que entram finalmente na idade adulta, e que a dor do mundo exterior ao castelo penetrou finalmente nas suas muralhas. O contraste entre o último lugar onde se procura a felicidade e o mundo exterior onde esta desapareceu é rompido e ambos os mundos se fundem. As trevas são reais e os pequenos deixam de ser pequenos.

A odisseia final de Harry Potter começa quando este, juntamente com Ron e Hermione, fortificam um laço à beira do abismo.

 

O crescimento traz consigo o facto de os lugares idílicos deixarem de o ser para se fundirem com o cinzento do exterior, da inocência que desaparece face à dor do "mundo dos adultos", face à realidade. Simboliza isto também a saga, pois no fundo a história cresce com o crescimento dos personagens, assim como o mundo cresce enquanto nós crescemos com as suas mágoas e o enfrentamos tal como é.

Harry Potter é assim, como o crescimento de todos nós. Começa como a encantadora fábula com toques de inocência e cresce em algo complexo e verdadeiro, cresce para uma fantasia adulta.

"Half-Blood Prince" é mesmo um pequeno clássico de fantasia.

 

8.5/10

___

 

Hermione Granger: How does it feel, when you see Ginny and Dean? I see how you look at her.
Harry Potter: [Ron bursts in with Lavender, after a brief fight, Hermione chases him away with a spell, then sinks down next to Harry crying] It feels like this.

 

Tom Riddle - Age 11: I can make things move without touching them. I can make bad things happen to people who are mean to me. I can speak to snakes too. They find me... whisper things.

 

Harry Potter: Fight back you coward! 

 

[after Harry has told Slughorn about leaving the castle]
Horace Slughorn: [shocked] Harry!
Harry Potter: [imitating Slughorn and hyper from the Felix potion] Sir! 
 

Severus Snape: [to Dumbledore] You ask too much.

 

Albus Dumbledore: In my life I have seen things that are truly horrific. Now I know you will see worse. 

 

Horace Slughorn: Harry! I must insist you accompany me back to the castle immediately!
Harry Potter: That would be counterproductive, sir! 

 

  

publicado por RJ às 16:53
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1 comentário:
De Bruno a 19 de Agosto de 2009
Gostei muito do filme, mas saí do cinema com aquela sensação de que falta algo mais... e eu acho que sei porquê: sendo uma série, é normal que esse algo mais a que estou a referir-me seja o último filme (dividido em dois).

Mas mesmo assim, o argumento do filme poderia estar mais rico. É a minha opinião.

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